O Blog doJuazeiro procurou o professor Renato Casimiro para conversar um pouco sobre o
lançamento no próximo dia 25 da Coleção Padre Cícero Romão Batista e os fatos
de Joaseiro.
Renato
tem doutorado pela USP e é formado é Química Industrial e Engenharia Química
sendo respeitado ex-professor Universitário em Fortaleza.
Respeitado
intelectual é profundo conhecedor da história juazeirense com dezenas de livros
publicados e milhares de artigos em jornais brasileiros e do exterior.
Foi um
dos consultores do escritor e jornalista Lira Neto, quando da produção do Livro
“Padre Cícero, Poder Fé e Guerra no sertão” e do roteirista Jonasluis de Souza,
do Icapuí, que escreveu a Minissérie Sedição de Juazeiro para a FGF.
Renato
Casimiro, ao lado da não menos competente Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros
organizou esta nova coleção que pronete ser repleta de sucesso.
A
entrevista foi concedida ao editor do Blog, Beto Fernandes:
Blog do Juazeiro: Como se deu a
ideia de formatar a Coleção Padre Cícero Romão Batista e os fatos de Joaseiro?
Renato Casimiro: Foi um processo gradual, de
amadurecimento da equipe que integrou a Comissão Diocesana de Estudos para a
Reabilitação Histórico-Eclesial do Padre Cícero. A primeira destas reuniões
aconteceu em São Paulo, nos dias 19 a 21 de abril de 2002, com o Bispo diocesano
de Crato D. Fernando Panico. Nesta ocasiãoestiveram presentes o Prof.
Antônio-Mendes da Costa Braga (sociólogo), Prof. Dr. Carlos Alberto Steil
(antropólogo), Prof. Dr. Fr. Eduardo Spïller Pena (historiador), Prof. Dr.
Marcelo Ayres Camurça Lima (antropólogo), Profa. Ms. Maria de Fátima Morais
Pinho (historiadora), Profa. Ms. Maria do Carmo Pagan Forti (psicóloga e
doutoranda em Ciências da Religião), Prof. Dr. Pe. Paulo César Loureiro Botas
(teólogo e filósofo), Prof. Dr. Paulo Fernando Carneiro de Andrade (teólogo),
Aroldo de Oliveira Braga (assessor do Setor Cultura - CNBB), Pe. Francisco
Roserlândio de Souza (historiador, coordenador do FPI/CENDEP e DHDPG). Foram
também convidados para participar da Comissão e estiveram presentes a esta
reunião: Pe. João Jorge Correa Filho (teólogo e responsável pelo Arquivo de
História Eclesiástica da Arquidiocese de Fortaleza), Profa. Dra. Luitgarde
Oliveira Cavalcanti Barros (antropóloga) e o Prof. Dr. Antonio Renato Soares de
Casimiro (em quem se reconhecia alguma habilidade e conhecimento sobre o
documentário até então conhecido sobre as questões políticas e religiosas em
torno do Pe. Cícero). Também faziam parte desta Comissão, como se sabe, Pe.
Francisco Murilo de Sá Barreto, Ir. Anne Dumoulin e Ir. Therezinha Stella
Guimarães. A partir deste meu primeiro contato com a equipe, ficou evidente que
me caberia um trabalho extenso de revisão das fontes primárias, contendo
documentos relativos a todos estes momentos da vida do Patriarca de Juazeiro,
com o objetivo de ircolaborando com a equipe mais doméstica, já constituída, e
em pleno trabalho, integrado pelas Irmãs Annette, Ana Teresa, Maria do Carmo e
Pe. Roserlândio. O volume de documentos já revelados e novos achados em
arquivos diversos, tanto no Cariri, quanto em outras partes do país e até no
exterior, ia gradativamente nos empurrando para uma sistematização, uma vez
que, ao objetivo maior de preparar um substancioso dossiê para coadjuvar a
petição do Bispo Diocesano de Crato com respeito à reabertura do Processo em
que está incurso o Pe. Cícero, perante a Santa Sé, a isto se seguiria,
necessariamente, à disponibilização por via física (publicação) e/ou inserção
na rede mundial de computadores, através de uma página a ser criada na web.
Este, portanto, foi o motivo primeiro para gestar a Coleção que ora estamos
lançando.
BJ: Há algo de novo nesta
publicação em relação a Igreja estar vendo um novo conceito sobre os ‘fatos de
Joaseiro’, principalmente com a possibilidade da reabilitação das ordens
sacerdotais do padre Cícero?
RC: As maiores referências tínhamos
acumulado sobre as questões políticas e religiosas de Juazeiro e do Pe. Cícero
estavam, essencialmente, na abertura de alguns arquivos que começaram a ser
conhecidos a partir das pesquisas do prof. Ralph della Cava (anos 60), da
profa. Luitgarde Barros (anos 70) e daí por diante, a dezenas de dissertações e
teses de doutoramento acadêmico em universidades do país e do exterior, gerando
novos e importantes olhares sobre estas velhas questões e seus personagens no
Joaseiro. Com o conhecimento do que ia chegando aos livros publicados, logo
veio a sensação de que o painel estava ainda incompleto, no tocante ao acervo
documental. Mas, não imaginávamos que ainda se tinha tanto para revelar, para
se conhecer. De maneira que, esta coleção traz no seu conteúdo um rico acervo
de novos textos que passam a compor, em certos aspectos, um olhar menos
sectário sobre os fatos do Joaseiro, e com certeza mais favorável a um
posicionamento mais equilibrado, distanciado da polarização que persistiu por
décadas com algo que nos incluía como participantes fanáticos de tendências bem
radicais, pró ou contra. Pró ou contra os Milagres/Embustes... Pró ou contra o
Santo/Coronel...
BJ: Passados 123 anos do ‘Milagre da Hóstia’ o
fato de estar ainda tão vivo deve-se a fé do povo nordestino. Esse novo olhar
da Igreja é um reconhecimento à força do catolicismo popular, claramente maior
que o catolicismo romano?
RC- Ao meu sentimento, sem dúvida
alguma. Por todos estes anos, esta enorme Nação Romeira não arredou o pé e o
compromisso de estar permanentemente ligada ao seu Patriarca. Juazeiro se
afirmou como espaço generoso desta missão, em torno de Oração e Trabalho. E o
que se viu foi um ato continuado de fé, fortalecida por uma convicção na
santidade do seu líder, vivo e permanentemente ao lado de sua gente. Enquanto a
Comissão trabalhava, pela imprensa, especialmente, surgiam especulações de que
isto ia para Roma como esforço da nossa Diocese para subsidiar o Santo Padre na
revisão que, assim parecia, já estava encomendada. Lembro até de uma entrevista
de emissora local com uma romeira, onde o entrevistador indagava sobre o
reconhecimento da santidade do Pe. Cícero. Ao que a romeira respondera com tal
simplicidade e com alguma perplexidade: - Mas, meu filho, será que o Santo
Padre ainda não sabe que o meu padrinho é santo? Não quero dizer que haja na
essência deste trabalho que realizamos algo que nos posicione como alguém que
estabelece uma dicotomia entre a igreja popular dos sertões brasileiros e a
igreja romana, hierárquica. Para mim, o mais relevante e respeitável é que em
nenhum momento, mesmo de práticas rústicas, mas com fé – inquebrantável, ela é
a mesma Igreja do Cristo ressuscitado. É a mesma Igreja da Mãe das Dores. É a
mesma Igreja do servo fiel e obediente, Padre Cícero. Essa identidade está viva
no coração desta gente e de suas devoções. Quando eles vêm aos milhares, de
volta ao Juazeiro, nós nos comovemos com a energia que eles nos trazem, como
testemunho desta fidelidade exemplar.
BJ: Na edição há algo novo sobre
estudos que busquem identificar para onde levaram os restos mortais da Beata
Maria do Araújo?
RC: Não houve, em nenhum momento,
esta preocupação com respeito à conduta da Comissão, posso lhe dizer com
firmeza. Isoladamente, minha curiosidade e de alguém mais, isto é o que posso
admitir. Afinal houve um fato violento, assim classifico, perpetrado por gente
com motivos obscuros. Afinal, foi um tempo (1930) de profundas mudanças na cena
política do país e até na região. Aconteceu no quase ocaso da vida do Patriarca
que reagiu de forma contundente. Diz-se que havia no local até fotógrafo, mas
nada foi identificado até hoje. Sumiu. Evaporou. Hoje nos posicionamos
respeitosamente a este capítulo subtraído da nossa memória histórica. A reação,
me parece, veio por uma elevada sensibilidade da inteligentzia que começou a
resgatar a figura histórica da beata para elevá-la a um panteão de heroína. Sua
biografia foi reescrita sem os ranços da exclusão a que foi submetida, em toda
a sua existência. Pra mim, nenhuma surpresa se um dia esta Igreja a que ela
serviu vier a se posicionar, relevando as suas virtudes de serva de Deus. Sobre
o local exato, onde seu corpo esteve, disso sabemos, junto àquela parede
direita da entrada da Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, eu até
gostaria que o local tivesse esse reconhecimento autorizado. Aí, quem sabe,
lembrando Maria de Araújo, colocaríamos sua imagem fotográfica e até um
epitáfio muito conhecido (Mário Quintana) se poderia escrever, adaptando: “Eu
não estou aqui... Aliás, eu estou aqui...”) Maria Magdalena do Espírito Santo
de Araújo (* Juazeiro do Norte, *24.05.1862 / +17.01.1914). Daqui a uns
meses, será importante que isto aconteça. Não como eu gostaria, necessariamente.
Mas de algum modo. Serão cem anos de silêncio e de omissão, quase imperdoáveis.
BJ: Quais os parceiros para
viabilizar o lançamento desta importantíssima coleção?
RC: Não foi muito simples chegar a
estes resultados. A esta Coleção, a este momento. No caminho havia diversas
pedras. Felizmente, também, e por sorte nossa, havia por perto pessoas e
instituições sensíveis a esta proposta. E assim foi. Queremos agradecer com
muita gratidão o empenho de grandes parceiros, especialmente do sistema
Fecomércio (SESC e SENAC), Diocese de Crato, Fundação Pe. Ibiapina, Fundação
Waldemar de Alcântara e Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte.
Serviço:
Lançamento da Coleção Padre Cícero Romão Batista e os fatos de Joaseiro
Data: 25 de outubro (Quinta-feira)
Horário: 19h30min
Local: memorial Padre Cícero
Rua Leandro Bezerra S/N
Bairro Socorro
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