
De acordo com o belo samba-canção de Ari Barroso, divinamente interpretado por Elis Regina e faixa de abertura do disco Elis, de 1974,- não lembro, a rigor, do que fiz no dia em que apareci no mundo.
Devo ter dado, como todos recém-nascidos, uma boa chorada e, depois, cansado de chorar e faminto,- uma boa mamada,
(Mas, não num litro e meio de cachaça.).
Devo ter tirado, sim!, uma bela de uma soneca e , moto perpétuo, ter escutado muitos e novos e estranhos sons, como vozes humanas, cantos de pássaros, barulho de carros e, inclusive, do trem.
Nasci, pois!, na Maternidade Jesus, Maria e José, localizada na Praça Cristo Rei, também conhecida como Praça da Estação e tradicional ponto de táxi da cidade.
Numa das esquinas, em frente à Estação da Rffsa, ficava o elegante Bar Social, dotado também de lanchonete, sorveteria, bombonieri e mesas de jogos de bilhar, popularmente chamado de sinuca.
Logo depois, eu voltaria ali, na companhia do meu pai e de meus irmãos mais novos, para saborear um “indefectível” sorvete. Mas, isso, depois de esperarmos a chegada do trem, por volta das sete horas da noite, vindo de Fortaleza e trazendo passageiros e cargas diversas.
Foi quando meu pai me ensinou a antevir outros seres. Como exemplo, aquele bicho-trem, que nunca tinha visto ainda, mas que mostrou-se forte, rápido e inexorável desde que então, comecei a ouvir melhor os sons.
Essas são as minhas lembranças mais remotas, que a cada dia se tornam mais nítidas e, conseqüentemente, indeléveis para sempre.